segunda-feira, 21 de abril de 2008

Sempre tive a ligeira idéia de que só a sorte trazia felicidade. Algo como “elas andam lado a lado”, sabe? Como se nessa corrida louca que é a vida só as pessoas afortunadas chegassem na reta final vitoriosas, e para isso contavam com uma ajudazinha do destino. O mais curioso disso é que eu, de fato, não estava incluída nesse seleto grupo de “sortudos” que, sem fazer esforço algum, alcançavam tudo o que queriam. Era como se, para esses, o simples fato de desejar fosse sinônimo de acontecer. E eu comparava minha sorte, ou falta dela, com os acontecimentos mágicos da vida de minhas amigas, procurando entender porque nada acontecia facilmente para mim.

Se o bingo na escola sorteava brindes que toda criança queria, eu não ganhava nada, ou levava para casa um lindo imã de geladeira para minha mãe. Se minha equipe nas gincanas entrava como favorita, saía como o azarão. E dos infortúnios clássicos da infância, passei para a adolescência sem muito ver minha estrela brilhar, e só aí notei que o acaso não andava ao meu lado.

Constatado o problema, me restava encontrar a solução. E tentando encontrá-la, me conformei pensando em talvez alcançar tudo que me realizava por outro caminho, que não o da sorte. Acreditei, então, que eu deveria ser compensada de alguma forma, assim como cegos têm outros sentidos aguçados, minha total falta de sorte poderia ao menos me dar algo em troca. E, creio eu, meu “prêmio” veio em forma de memória. Mas, longe de ser qualquer memória, a minha era excepcional, quem sabe para que eu pudesse lembrar para sempre de todos os meus azares? E foi assim durante todos os anos, lembrava datas e detalhes de situações, verões, passeios, brincadeiras; associava perfeitamente fisionomias aos seus nomes e os locais onde conhecia pessoas pouco importantes ou pouco marcantes. Além de impressionar a mim mesma e a todos à minha volta com esse “dom”, eu ajudava-os a recordarem de certas ocasiões e de pessoas dos mais diversos lugares.

Foi a partir desse momento que criei teorias envolvendo sorte, memória e felicidade, pois notei que minha grande amiga e eu juntas éramos a personificação daquelas. Se eu tinha muito azar e muita memória e minha amiga era possuidora do famoso “bumbum virado pra lua”, mas não possuía capacidade de recordação alguma, só podia ser verdade que quem ganha um pouco de sorte deve ceder algo. No meu caso e no dela, então, a memória entrava em jogo. E enquanto eu delirava nas minhas hipóteses, elas foram inesperadamente tornando-se reais.

Passei a poder tranqüilamente chegar na parada de ônibus e saber que não acabava de perdê-lo, pelo contrário, ele chegava na hora exata em que eu precisava. A chuva não me pegava mais desprevenida, podendo eu sair de casa sem sombrinha e ela parar quando eu fosse me deslocar. O que eu perdia, encontrava; quando precisava, me encontrava na hora e local certos, onde as pessoas certas estavam, os momentos aconteciam, pois, como mágica. Era a sorte que andava ao meu lado agora, fazendo a minha vida acontecer da forma que eu desejava. E esse sempre fora meu ideal de felicidade.

Não decidi abrir mão daquilo que julgava ser uma das minhas maiores características, mas, inevitavelmente, passei um pouco da minha capacidade de registro àquela cujo destino estava um tanto facilitado, no exato momento em que me tornei uma pessoa de sorte. Creio que apenas me foi emprestado seu mar de chances, pois logo tive que devolvê-lo. Sim, finalmente havia me tornado a pessoa de sorte que queria, mas eu já não lembrava das coisas da mesma forma e isso passou a me incomodar. Mesmo assim eu me divertia com a situação, brincando com todos que bastava encostar em mim para ter mais sorte. Será que não foi assim que a perdi novamente?

De qualquer forma, apesar da rapidez dos acontecimentos e de tão logo ter voltado à minha sina, procuro hoje me divertir com essa história um tanto mágica e com os insucessos do dia-a-dia. Quanto à minha amiga, continua a mesma desmemoriada de sempre, e jura não ter problemas com seus lapsos de esquecimento.

Não provoco mais o destino, deixei de lado as teorias e tão pouco desejo trocar de lugar com qualquer “agraciado” pela vida. Afinal, como dizem, não é bom dar sorte para o azar.

4 comentários:

Melissa disse...

ahhh, tááá. o texto aquele :D
pois tu vai ver que, por coincidência, a configuração do meu blog é toda em francês :D heeheh pra ver como eu já gosto da língua há tempos: fiz ele em 2005. antes eu usava esse layout aí igual ao teu, aí esse ano resolvi chocar! ah tri hueihe ah, quis deixar ele mais "meu".

:*** mas só teu viagem, não escrevi nada do "meu jeito bacharel de ser"

Melissa disse...

corrigindo: só TEM viagem.

Melissa disse...

tô indo pra faced, diz ela.

grrrrr.

Anônimo disse...

Mana tu escreve mto bem

eu gosto do teu estilo

dá uma olhada lá no meu

http://dereknoble.blogspot.com

beijo