Todas as vezes aquilo acontecia: meu coração disparava, minhas mãos tremiam e suavam durante quase duas horas. Eu sabia que mil vezes fosse ali, mil vezes sairia com as pernas bambas, como se houvesse sido agredida. No entanto, era uma sensação tão gostosa. Eu sentia a vibração daquelas milhares de pessoas com os olhos arregalados, sentia o chão tremer, parecia que tudo ao meu redor desmoronaria e, ao mesmo tempo, havia uma espera angustiante por trás de tanta euforia.
Era minha paixão. Quem não gosta de futebol pouco pode compreender de um amor tão fiel, capaz de durar toda a vida. Poucas paixões eram tão duradouras: a de namorados terminava em meses, ou até mesmo semanas. A de esposos, por mais que durasse, não tinha a garantia de fidelidade eterna, assim como a de irmãos, amigos. Nenhuma poderia ser tão intensa, duradoura e avassaladora como essa.
Quarta-feira, 21h45min. Apita o juiz. As palmas na arquibancada começam e, pouco a pouco, contagiam uma torcida inteira. O vermelho vibrante me emociona, meus olhos já começam a encher de lágrimas. Sei que ainda não é hora de extravasar as emoções, mas era essa minha vontade. Atenção total em cada lance, o olho capta cada movimento da bola e consegue também observar tudo em volta dela. Meu olho já está treinado a essas situações. Agora consigo ver a jogada em campo e o outro lado da arquibancada. Procuro meu ídolo em meio a tantos jogadores, pois sei que ele é capaz de ser imprevisível e aparecer de onde menos espera-se.
De repente, a monotonia é o destaque do jogo. Passes errados, poucas chances de gol, o público sentado. Tédio. Esse é o brilhante mundo do futebol, pensava eu. Tudo se encaminha para um empate sem brilho. Fim do primeiro tempo.
Na segunda etapa tudo volta a brilhar. As mesmas sensações percorrem meu corpo, como a indicar algo que está por acontecer. As chances de gol aumentam, meu coração volta a bater, como o coração do estádio, que vibra na intensidade daquela torcida.
Olho o relógio: 40 minutos já se passaram, nada mudou no placar. Impaciente, procuro o chão com os olhos, algo aperta o meu peito. Não sinto as pernas, nem tampouco os braços. Penso em entregar-me à fraqueza, mas a vontade de continuar sentindo aquela emoção louca é maior.
No milésimo de segundo em que pensava tudo isto, meu olhar se desprendeu da bola, do campo – perdi meu ídolo de vista – meu coração acelerou, o público gritava algo quase incompreensível, minhas mãos formigavam, minha vista embaçou. Gooooooooool!
Tudo estava decidido: o jogo, o futuro do meu time naquela competição, a paixão que inundava a alma de cada torcedor ali e em outras partes do mundo e, lamentavelmente, minha nova vida de torcedor, até então habituado ao agito próximo ao campo.
Não fui capaz de segurar a fraqueza naquele momento. E o coração, cotidianamente entregue às maiores emoções, me impedia agora de voltar ao estádio.
Um comentário:
Vamatualizá ssamerda!
:D
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