"Minha cabeça dói muito hoje." Ela acordou cansada e sabia que o resto do dia seria assim. Os olhos num quase fechar-se denunciariam a noite mal dormida, mas não era a habitual cara-de-ressaca-de-festa-boa. A cara, e não só ela, mas também a mente e o coração eram de quem estava prestes a se entregar.
Sentia-se burra e desconfiante de si, não sabia mais o que queria nem quem era, e achou tudo isso tão banal e pós-moderno que resolveu parar de sentir pena de si mesma.
Levantou da cama com aquela música de despertador alucinando sua cabeça, as coisas em volta giravam e ela via pontinhos estrelados como via muitas vezes em outras situações cheias de prazer. Tomou café e odiou tudo o que engolia, que continha o sabor amargo de todo dia. Sentiu um enjôo e o gosto nojento de vômito vindo a levou às pressas para o banheiro. Vomitava aquilo tudo que engolira hoje, ontem e sempre.
Ela agora poderia estar pensando que se transformaria numa barata, porque sabia os sintomas e porque sua cabeça tinha um ritmo doido que a fazia pensar mil coisas absurdas num segundo. Mas hoje pensava em nada. Pensava no nada que era a sua e a vida de milhões de outras pessoas. Pensava a que lugar chegaria sendo esse nada que era. Era tão nada e nada continuaria sendo que sabia o tamanho de sua banalidade no mundo, e sabia que essa era mais uma crise infernal que resolve chegar nos momentos em que mais precisa de forças..e tinha certeza de sua banalidade.
O que pessoas não banais fazem, o que elas pensam? Quem não é banal?
Demorou mais uma hora e meia naqueles pensamentos não funcionais enquanto se arrumava para ninguém. Saiu de casa naquele ritmo acelerado, indo para nenhum lugar, ou para o mesmo lugar de sempre, automática, inconsciente. O coração ainda apertava no peito sem dizer porque, o estômago ainda revolvia, e as pernas continuavam andando em total descompasso, o corpo todo não demonstrava coerência nenhuma com sua mente. Atravessando ruas, passava por figurinos interessantes que talvez escondiam a mediocridade interna daquelas pessoas.
Chorou mais, chorou intensamente no meio da rua, sem explicação nem entendimento. Queria descobrir o que movia o mundo, o que fazia todas aquelas pessoas sairem para a rua tão cedo e voltar para casa tão tarde, sem nenhum prazer, sem...
Voltou para casa, dormiu até não sentir mais sono e voltou a dormir. E quando acordou, cansada de dormir, foi até a janela, olhou a imensidão no céu, a escuridão da noite, as luzes do aeroporto brilhando...E sorriu.
sábado, 9 de agosto de 2008
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2 comentários:
nossa... eu só ia dizer "que legal". mas agora, no fim, me liguei que a idéia toda tá MUITO parecida com o meu último texto (antepenúltimo post), até me arrepiei por isso. nem combinamos! heheheh
saudade :*
:) mas ainda muito distantes! te quero, gata! hehehe
:***
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